‘Poema das Árvores’ – António Gedeão

‘Poema das Árvores’

As árvores crescem sós. E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.

António Gedeão in Poema das Árvores

‘Virtude vegetal viver a sós

e entretanto dar flores.’

As (quase) certezas…

O Fim!
O último suspiro!
A última viagem de alguém que amamos!
Nunca achamos que vai ser tão cedo! Nunca achamos que vai ser de repente!
Nunca achamos que vai acontecer connosco!
Nunca pensamos que um dia vamos perder alguém, menos ainda se for da nossa idade!
Nunca imaginamos sequer viver sem essa pessoa!
Achamos que vamos ter sempre tempo!

A verdade é que infelizmente pode acontecer. Com quase todos, numa qualquer fase da vida!
E aconteceu comigo! Há 5 anos atrás.
De um momento para o outro, um telefonema tumultuou a rotina de mais um dia. As minhas (quase) certezas desmancharam-se e a minha alma ficou escura e silenciosa. Recordo tão bem de ter ‘visto’, naquele minuto, depois de desligar o telefone, um desfile de múltiplos frames dos muitos momentos em que fomos tão felizes, talvez numa tentativa ilusória de contrariar a verdade!

Tinha sido o fim!
O último suspiro!
Começava a última viagem da minha Zi…
Há 5 anos o (meu) mundo ficou mais triste, menos sorridente, menos colorido, mais sombrio e sem certezas. Porque nada é certo e isso, sim, é a mais dura das verdades.
Trago-te sempre comigo! Penso em ti todos os dias!
E sabes como te vejo? SEMPRE a sorrir!
Eu continuo a fazer o melhor que consigo e sei.

Carpe Diem… como repetias, Amiga!