Vozes: Aldina Duarte | Ana Bacalhau | Cuca Roseta | Gisela João Manuela Azevedo | Marta Hugon | Rita Redshoes | Selma Uamusse
‘Cansada’ – Rodrigo Guedes de Carvalho
Estou cansada – ainda agora chorei tanto Outra noite – o terror andou à solta Vai e volta e promete que não volta Vai e volta e promete que não volta Estou cansada – chorei tanto outra vez Outra vez a pensar que hoje talvez Haja paz – que o terror só vai não volta Que a tua mão não se fecha contra mim Estou cansada – não há fim nesta demência Ou ciência que preveja que me mates E quem bate depois chora e promete Que não mais a mão se levanta fechada Estou cansada – acho que não quero nada Que não seja uma noite descansada Sem ter medo ou chorar na almofada Sem pensar no amor como uma espada Tão cansada de remar contra a maré O amor não é andar a pé na noite escura Sempre segura que a tortura me espera Insegura tão desfeita humilhada Tão cansada de não dar luta à matança À dança negra que me dizes que é amor Que não concebes a tua vida sem mim E que isto assim é normal numa paixão E eu cansada nem sequer digo que não Já não consigo que uma palavra te trave Não tenho nada que não seja só pavor Talvez o amor me espere noutra estrada Mas tão cansada não consigo procurá-la Já tão sem força de tentar não ser escrava Já sei que hoje fico suspensa outra vez Outra vez a pensar que hoje talvez…
Não se consegue ficar indiferente a esta campanha da APAV! Bastou-me ouvir o tema uma única vez, para que a palavra ‘cansada’ ganhasse uma nova dimensão no meu ser e me obrigasse no futuro a repensar no seu uso, quando ousar dizer que ‘estou cansada’. Tão triste e tão duro o modo de (sobre)viver de tantas e tantas vítimas em Portugal! 😦
Num registo quase cinematográfico, a fazer jus a uma notável peça musical, emergem as vozes de oito mulheres das sombras dos seus corpos, que se vislumbram ‘incompletos’ na penumbra. Mantêm-se sempre a meia luz, numa metáfora, certamente pensada, da história comum a muitas vítimas de violência doméstica. Mulheres que se escondem da luz do dia, da própria vida e (sobre)vivem num lusco-fusco sufocante de onde, por vezes, não sabem sair. As palavras são claras, genuínas e leais à dor de quem sofre, e em todas elas transpiram os gritos, por vezes mudos, de tantas mulheres que padecem deste tormento.
As cantoras protagonistas estão sublimes! Ainda assim, tenho de destacar Ana Bacalhau, que me deixou desconfortável – tão boa que é a sua interpretação – pela postura, pelo registo, pelo semblante sofrido. Chega a custar ver!
A ficha técnica (ver aqui) é igualmente soberba. Rodrigo Guedes de Carvalho criou a letra e a música do tema e juntou-se a outros elementos que vieram engrandecer a intenção de um hino que consciencialize um país para um problema que, por muito que ainda o queiram estereotipar, estende-se a todas as classe sociais. Um problema que é de todos, não só das vítimas. É de cada cidadão! Não podemos fechar os olhos, quando actos desumanos acontecem debaixo do nosso nariz!
Num país, onde a maior percentagem de casos de violência doméstica se concentra nas mulheres, era urgente voltar a falar no assunto. Convém, ainda assim , referir que esta calamidade atinge, em proporção inferior mas igualmente dolorosa, homens e que urge também falar do assunto.
Duas notas de rodapé (opinião pessoal, claro): – Ana Bacalhau deveria tentar a representação. – Rita Redshoes fica maravilhosa a cantar em português (apesar de achar que cada qual deve cantar na língua que entende).
Estou absolutamente extasiada com o conceito e intenção que está na base da criação desta plataforma e também por se tratar de um projecto de duas pessoas admiráveis, a Rita Ferro Rodrigues e a Iva Domingues. Admito sem problemas que tenho há muito tempo uma especial admiração pela Rita. Conheço-lhe nas palavras e acções públicas a força de uma mulher que abraça causas e projectos como filhos e que, tal como se faz por um filho, luta por eles de modo aguerrido para sempre, venha quem ou o que vier. Imagino, por isso, o entusiasmo, a alegria daquele olhar de menina em corpo e alma de mulher, ao ter esta promissora ‘Maria Capaz’a braços. ❤
Já li textos, crónicas, de forma quase compulsiva, para que nada me escapasse nos seus primeiros momentos de vida, nos ‘primeiros sopros’, mas como o tempo não tem sido muito, tenho de voltar, com a calma necessária, àquele que promete ser um espaço de mulheres conhecidas e anónimas, que têm em comum a certeza que não se deixaram, se deixam ou se deixarão curvar perante uma sociedade ainda carregada de preconceitos para com as mesmas e que com esta ‘nova casa’ querem validar a sua condição. Sem medo ou pudor, ‘Maria Capaz’ assume-se como “Feminista, tendo como objectivo contribuir para a igualdade de Direitos e Deveres entre homens e mulheres”. E eu subscrevo com orgulho este objectivo!
Entre tanta informação interessante que já se encontra online, destaco a primeira entrevista de ‘Maria Capaz’, feita a Catarina Furtado, uma mulher de causas, que admiro. Uma ‘Maria Capaz’ de enorme valor! São onze minutos de humanidade que enchem o ❤ de qualquer ser humano (homem ou mulher)!
'As mulheres são um canivete suíço.'
'A mulher é uma pessoa comoventemente resistente."
(Catarina Furtado)
Será que as pessoas que criticam o viral e, por isso, profícuo ‘Ice bucket challenge’, com especial enfoque no alegado gasto de água potável que este acarreta, têm atenção à água que desperdiçam na sua higiene pessoal, nomeadamente no banho (e já nem falo dos banhos de imersão) ou a lavar os dentes?
Darão atenção, por exemplo, ao número de descargas do autoclismo? Sim, porque existem formas de ajustar o volume de água a descarregar.
Será que lavam a louça à mão, sem ser peça a peça?
Será que aproveitam a água da chuva para a reutilizar na rega de plantas (interiores ou exteriores) e jardins?
Será que essas pessoas não fazem banhos de mangueira no jardim ou não usam piscinas insufláveis, actividades que fazem as delicias de crianças (e muitos crescidos) na época quente?
Será???
Eu tento ao máximo pôr em prática no meu dia-a-dia parte destas acções, porque acredito que, todos juntos, podemos ajudar a poupar um bem tão precioso como é a água. Mesmo assim, apoio esta causa, quando feita com o verdadeiro propósito obviamente e desde que o uso da água seja tão-somente um acto simbólico, uma vez que o objectivo maior é a angariação de fundos para a Esclerose Lateral Amiotrófica, uma enfermidade a quem ninguém prestava grande atenção até então e sobre a qual muitos nunca teriam ouvido falar. Se podia ter sido por outros meios? Podia. Mas se este resultou, porquê tanto alarido?
Aproveito para fazer deste post, não apenas uma mera dissertação da minha opinião, mas também um útil veículo de informação, partilhando o site da Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica, aApela. Existem muitas formas de ajudar esta associação. Eu tornei-me sócia, sem banho de água gelada, mas asseguro que, se esse banho movesse outras pessoas a serem solidárias, não teria problema algum em fazê-lo.
A vida nem sempre é fácil, por muito que sejamos positivos, optimistas e com tendência para olhar com serenidade para o avesso dos dias. Deveríamos, se conseguirmos (ou se conseguíssemos), ter presente que o mundo não é (de todo) cor-de-rosa. Que o sol também se põe. Que o ser humano é imperfeito. Que a dor existe. Estas são verdades que deveriam viver em nós, tal como o mundo quase quimérico em que, na maior parte das vezes, pensamos morar.
A verdade é que há momentos cruéis, que nos fragmentam. Há momentos infelizes que acontecem, porque sim, e que não dependem de nós. Nessas alturas difíceis, complicadas, em que muitas vezes caímos e nos estatelámos ‘ao comprido’, em que perdemos o chão, o norte e o discernimento, o vazio acomoda-se e toma conta do espaço, do tempo e de nós. O (nosso) mundo pára! Sabemos que é difícil levantar do chão, quando as dores são muitas. Se, mesmo assim, nos agarramos a alguma coisa, se cambaleamos, graças a uma réstia de força (que surgiu por milagre, achamos nós, e que não entendemos, pelo menos não nesse momento ainda frágil), é certo que já estamos a tentar procurar o trilho do chão que antes nos pertencia. Pode haver sempre quem queira que sejamos mais velozes, mais corajosos, que não pensemos na dor (que está lá e demora a ir embora), mas o que realmente importa é perceber que já estamos a caminhar. E isso é já uma vitória! A passos lentos, é certo, mas no tempo de cada um. Fundamental é termos consciência disso… que somos valentes a partir do primeiro segundo em que nos erguemos das nossas ‘cinzas’.
Hands - Jewel
If I could tell the world just one thing
It would be that we’re all ok And not to worry because worry is wasteful
And useless in times like these
I will not be made useless
I won’t be idled with despair
I will gather myself around my faith
For light does the darkness most fear
My hands are small, I know,
But they’re not yours they are my own
But they’re not yours they are my own
And I am never broken
Poverty stole your golden shoes
But it didn’t steal your laughter
And heartache came to visit me
But i knew it wasn’t ever after
We will fight, not out of spite
For someone must stand up for what’s right
Cause where there’s a man who has no voice
There ours shall go singing
My hands are small, I know,
But they’re not yours they are my own
But they’re not yours they are my own
And I am never broken
In the end only kindness matters In the end only kindness matters
I will get down on my knees and I will pray
I will get down on my knees and I will pray
I will get down on my knees and I will pray
My hands are small, I know,
But they’re not yours they are my own
But they’re not yours they are my own
And I am never broken
My hands are small, i know,
But they’re not yours they are my own
But they’re not yours they are my own
And I am never broken
We are never broken
We are God’s eyes, God’s hands, God’s mind
We are God’s eyes, God’s hands, God’s heart
We are God’s eyes, God’s hands, God’s eyes, God’s hands
We are God’s hands, God’s hands, We are God’s hands
Porque conheço gente que insiste em ajudar o próximo, num mundo que se distancia cada vez mais da magia e da força dos afectos. Porque teimo em rodear-me de gente que anseia por esta condição nas suas vidas. Porque existe gente obstinada, que não quer mudar o mundo todo, mas o mundo de alguém, e que é humana, atenta aos outros, proactiva, que pratica o bem sem querer nada em troca – que não seja a felicidade de ficar de coração cheio – e espalha a vontade de ser solidário. Este fim-de-semana isso aconteceu, sem grandes alaridos e foi maravilhoso ter feito parte desse pequeno (gigante) movimento. Não é minha intenção vangloriar-me do que fiz, porque fiz pouco, mas sim partilhar a alegria da entreajuda e contagiar alguém a fazer o mesmo. Porque isso, sim, seria maravilhoso e o mundo agradeceria. ❤