Um ano negro para a cultura…

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Prince deixa-nos. A cultura fica mais pobre!

Quem nunca sentiu dor de alma não sabe o que é sentir dor de alma…

Pode até entender, fazer um esforço para apoiar, pode ler e saber os elementos teóricos que a explicam. Mas não sabem o que é, porque não a sentiram. Não sabem que ela nos rasga o peito e nos dilacera o coração. Não sabem que ela nos percorre o ser num caminho desnorteado, do qual não sabemos o fim ou se tem fim. Não sabem que ela nos encaracola num casulo que parece proteger, mas que no fundo é tão-somente uma casa abandonada. Não sabem que ela nos arranca o riso e o sorriso e nos devolve um triste e sombrio semblante, que reflecte o imenso vazio que ganhou terreno dentro de nós. Não sabem que ela nos rouba o mais precioso bem: a vida.
Não sabem que alguns ‘regressam’ (nunca iguais, mas regressam) e que outros nunca encontram o caminho.

Quem nunca sentiu dor de alma não sabe o que é sentir dor de alma.
Eu já senti dor de alma! E, por isso, compreendo notícias como esta.

Da ténue linha que separa a vida da morte…

“Às vezes parece que só se vem ao mundo para enterrar os mortos. Para fazer o caminho que todos fazemos pelos outros e que, inevitavelmente, outros farão por nós. Perguntamos, para o vazio, porquê e o vazio responde-nos de volta, com nada. Perguntamos porque não entendemos que raio de viagem é esta. (…) Desejamos a vida mas odiamos a morte, como se separassem, como se não fizessem parte. Fazem. Mas continuamos sem entender. Lamentamos o tempo, o timing, a altura. Porque nunca é tempo, nunca é o timing, nunca é a altura. E marchamos cansados. Cansados de não entender, numa fila perfeita que não sabe para onde vai. Hoje arrastei a alma. Chorei esta e as outras perdas também. A minha tão fresca. Senti-me cansada. Cansada de não entender nada, nem como, nem porquê. Parece que a vida cansa e parece que a morte descansa, na pessoa que está ali serena, deixando-nos com o paradoxo. Estão os vivos tão cansados e os mortos, parece que descansam, porque talvez eles já tenham entendido. Talvez já saibam o que ainda não sabemos e por isso é que já podem descansar.”

Marine Antunes |Daqui|

‘O último andar da vida’*

Tinha saudades da Ala dos Namorados
Ansiava por novas palavras do maravilhoso João Monge, que admiro tanto…
Já fazia falta escutar a voz do Nuno Guerreiro, acompanhado pelo som do piano de Manuel Paulo

… Eis que sei que estão de volta e fico tão feliz! Ouço este tema. Choro (impossível não ficar emocionado). As palavras são simples, mas intensas, e apoderam-se de imediato da alma e da pele. Carregam uma história que é minha, ou de cada um de nós, num tom subtil de partilha, difícil de apagar da memória.
E assim se fala deste tão duro tema, deste ‘último andar da vida’… 😦

Obrigada, Ala! É só o que tenho a dizer!

‘Ninguém parte em boa hora, tu partiste adiantado,
deixaste a chave onde mora a saudade
foste embora’

* ‘Águas Furtadas’ – Ala dos Namorados

 

Amor foge a dicionários e a regulamentos vários *

Não é regra, nem lei. Deve haver uma, ou até várias teorias que poderão evidenciar alguns fundamentos científicos para explicar casos como este. Mas é certo que episódios como o de Joe e Helen acontecem, disso não há dúvida. Se é a força do amor, da amizade ou do companheirismo, do não saber lidar com a perda, ou com a dor, não sei. Certo é não haver certezas absolutas. Não consta que existam estatísticas, tanto quanto sei, que estabeleçam o tempo que separa o reencontro de duas pessoas que se amam, ou que têm uma história de vida em comum, e que a morte levou um antes do outro. Acredito também que não é (apenas) assim que se mede o amor entre duas pessoas, mas creio que algo de muito transcendente e belo acontece em relatos como este. ❤

* Do maravilhoso poema de Carlos Drummond de Andrade:

AS SEM-RAZÕES DO AMOR

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


*’Oh captain, my captain’…

Por detrás de um enorme sorriso pode esconder-se a maior das tristezas! 😦 (A ser verdade) Triste forma de o comprovar!
Robin Williams, uma perda enorme no meu mundo de memórias.

Obrigada por tudo!

Foto @ Pinterest

* @ ‘Dead Poets Society’

Assim que soube desta triste notícia, nunca mais me saiu da cabeça a entrevista que Judite de Sousa fez a Emília Agostinho e de que falei neste post. Aliás, nunca me esqueci dessa entrevista. A vida é MESMO muito irónica! De coração apertado, só consigo repetir o que diz o meu pequenino: ‘não é justo!’.

Os meus sentimentos à família e amigos! 😦

Philip Seymour Hoffman [1967-2014]

Ao tomar conhecimento desta triste notícia, pensei imediatamente neste filme que adoro! Ficam a música e as palavras de uma das mais bonitas cenas deste filme e a homenagem possível a um actor fabuloso, que tinha ainda muito para dar a esta ‘nobre arte do fingimento’.

RIP


‘Wise Up’ by Aimee Mann @ Magnolia (1999)

‘It’s not going to stop
‘Til you wise up’

 

Portugal perdeu (fisicamente) um REI…

Não que precisasse de voltar a ouvir, ler, ver tudo o que Eusébio da Silva Ferreira fez pelo futebol e pelo nome de Portugal (o meu pai faz isso desde que sou gente), para ter certeza da excelência deste homem, que, em tempo útil e na altura devida, que é enquanto se está por ‘cá’, foi resgatado do esquecimento pelas pessoas certas (sim, porque este homem também teve momentos menos bons) e recebeu o carinho e as merecidas homenagens. Contudo, ontem ao ler este artigo, nas palavras de alguém distante da memória afectiva que nós, portugueses, temos pelo Rei, o meu coração encheu-se de um orgulho ainda maior. Eusébio amava o futebol na sua arte maior, não tão-somente no resultado do marcador no final dos 90 minutos, mas sim enquanto espalhava e partilhava a sua magia dentro das 4 linhas, numa linguagem e alegria que só a ele pertenciam. Como escreveu Ricardo Araújo Pereira, num texto sucinto, mas maravilhoso, ‘Eusébio é outra maneira de dizer alegria.’

António Ramos Rosa [1924-2013]*

Caminho um caminho de palavras
(porque me deram o sol)
e por esse caminho me ligo ao sol
e pelo sol me ligo a mim

E porque a noite não tem limites
alargo o dia e faço-me dia
e faço-me sol porque o sol existe

Mas a noite existe
e a palavra sabe-o.

António Ramos Rosa, Sobre o Rosto da Terra

 

*Notícias que me deixam muito triste!