‘Libera-me’ – Carlos Queiroz

Libera-me

Livrai-me, Senhor
De tudo o que for
Vazio de amor.

Que nunca me espere
Quem bem não me quer
(Homem ou mulher).

Livrai-me também
De quem me detém
E graça não tem.

E mais de quem não
Possui nem um grão
De imaginação.

Carlos Queiroz

A todos aqueles que educam, guiam e ensinam as (nossas) crianças a ‘saber ser’

… OBRIGADA e um bom ano!!!

‘Ensinarás a voar,
Mas não voarão o teu voo.
Ensinarás a sonhar,
Mas não sonharão o teu sonho
Ensinarás a viver,
Mas não viverão a tua vida.
Ensinarás a cantar,
Mas não cantarão a tua canção.
Ensinarás a pensar,
Mas não pensarão como tu.
Porém saberás que cada vez que voem,
Sonhem, vivam, cantem e pensem
Estará a semente do caminho
Ensinado e aprendido.’

                           Madre Teresa de Calcutá

Viver com a Tua ausência…

Viver com a ausência infinita de alguém que amamos é a mais dura das penas, uma inquietação incomensurável. Quis a vida que também eu conhecesse pessoalmente esse vazio. E dói! Dói muito. Uma dor que chegou com o carimbo de vitalício. Uma dor que sacode a alma, tira o coração do sítio, tolda os sentidos, encurta o riso, entorpece a rotina e apodera-se de um espaço que não lhe pertence. 😦
Viver com a ausência infinita de alguém que amamos dá um diferente significado à palavra saudade. Uma saudade que ainda se faz de lágrimas, de melancolia e muita tristeza; uma saudade que não arranjou ainda espaço nas mais bonitas memórias que vivemos juntos e que queremos eternizar. Acredito que esse dia irá chegar, mas para já só consigo dizer que não te temos connosco há 29 dias e que temos tantas, tantas saudades tuas! ❤

Deixo aqui um texto do ‘nosso amigo’ Ary, Pai. Ele, sim, conhecia as palavras que davam sentido a esta coisa da saudade! Que me desculpem os intérpretes originais do tema, mas é na voz e na interpretação maravilhosas da Marisa Liz que encontro o conforto que procuro! Comecemos por aqui a encontrar o fio à meada…


Cantado por Marisa Liz

“Sete Letras” – Ary dos Santos

Esta palavra saudade
sete letras de ternura
sete letras de ansiedade
e outras tantas de aventura.
Esta palavra saudade
a mais bela e mais pura
sete letras de verdade
e outras tantas de loucura.
Sete pedras, sete cardos, sete facas e punhais
sete beijos que são nardos
sete pecados mortais.
Esta palavra saudade
dói no corpo devagar
quando a gente se levanta
fica na cama a chorar.
Esta palavra saudade
sabe a sumo de limão
tem o travo de amargura
que nasceu do coração.
Ai! palavra amarga e doce
estrangulada na garganta
palavra como se fosse
o silêncio que se canta.
Meu cavalo imenso e louco
a galopar na distância
entre o muito e entre o pouco
que me afasta da infância.
Esta palavra saudade
é a mais prenha de pranto
como um filho que nascesse
por termos sofrido tanto.
Por termos sofrido tanto
é que a saudade está viva
são sete letras de encanto
sete letras por enquanto
enquanto a gente for viva.
Esta palavra saudade
sabe ao gosto das amoras
cada vez que tu não vens
cada vez que tu demoras.
Ai! palavra amarga e doce
debruçada na idade
palavra como se fosse
um resto de mocidade.
Marcada por sete letras
a ferro e a fogo no tempo
Ai! palavra dos poetas
que a disparam contra o vento.
Esta palavra saudade
dói no corpo devagar
quando a gente se levanta
fica na cama a chorar.
Por termos sofrido tanto
é que a saudade está viva
são sete letras de encanto
sete letras por enquanto
enquanto a gente for viva.

Memórias que o tempo não rouba…

Ando melancólica e mais introspectiva. Coisas da vida. Dou por mim a ‘esmiuçar’ fotos e vídeos antigos, talvez numa tentativa irrealista de fazer o tempo voltar para trás. Ele volta, mesmo que por breves momentos, mas só nas memórias, na imortalização possível do que já nos foi tão querido, ou nos fez tão felizes. ❤ E apenas isso importa guardar!
Não há dúvida que a memória física do que nos vai acontecendo ao longo da nossa vida, seja em imagens, vídeos, palavras ou sons, é uma forma maravilhosa de recordar e reviver momentos felizes ou memoráveis. Como este vídeo que hoje reencontrei, 6 anos depois, e que não me canso de rever. Foi um privilégio ter ouvido ao vivo o talento imenso de Ruy de Carvalho, um artista admirável! Já tinha posto isso por palavras. Deixo agora o registo (possível) em vídeo:


Poesia à Mesa @ S. João da Madeira (21.03.09)

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhas de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dize-lo cantando a toda a gente!

(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

 

“O infinito variável…de respirar a eternidade”

A Hora do Cansaço

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

Do medo ou da coragem para fazer uma revolução…

O medo assusta-me, admito, mas tem sido o meu melhor aliado, uma espécie de botão ‘boost’ para conseguir olhar e seguir em frente, quando a vontade é de  simplesmente ficar quieta! Claro que há dias em que ele leva a melhor! Opto por não me render, apesar da dificuldade em recomeçar a caminhada.
Não é assim com toda a gente. Não há regras para desafiar o medo. Cada um tem a sua história e as suas razões para agir de modo diferente e de, por vezes, subjugar-se a este estado angustiante, que paralisa, atrofia, que pode mesmo destruir vidas… Porque nem todos somos intrépidos, ou temos acessos de coragem. Há ainda quem prefira viver assim, uns talvez porque porque ‘a vida sem viver é mais segura‘, como escreveu Alexandre O’Neill, outros porque tão-somente ainda não se muniram dos ‘instrumentos’ necessários para fazer a sua revolução pessoal!

PERFILADOS DE MEDO

Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido…

Alexandre O’Neill in Poemas com Endereço, 1962

“Os amigos são

uma forma animada

de poesia”

Cecília Meireles

O mundo aos olhos do meu filh♥…

desenho_rodrigo

* in “O desenho” de Cecília Meireles

Momentos bonitos a que me agarro em dias menos bons! Obrigada, meu amor! ❤

Eu e a vida…

… e o descompasso que às vezes parece existir entre nós.
Há dias assim…

Ânsia

Não me deixem tranquilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda
o eterno rebentar da espuma

As horas são-me escassas:
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos
tivéssemos trocado
para morrer vivendo.

Mia Couto in “Raíz de Orvalho e outros poemas”

Um dos meus mantras…

Foto @ Pinterest