Work in progress << Da vida e do que (posso e quero) fazer para a viver bem #7

 
«Nem sempre encontro a disciplina de me concentrar em mim e desligar do (meu) mundo. Às vezes ainda confundo egoísmo com amor-próprio, renovação com distância, contemplação com alheamento. Às vezes ainda dou por mim a sentir-me mal por gostar muito dos outros, mas gostar ainda mais de mim.

O que me (e nos) falta tantas vezes, é tempo para recuar. Tempo para medir. Tempo para ponderar. Tempo para cuidar. Tempo para despojar a razão e o coração. Tempo para «arrumar» a casa e conhecer melhor tudo o que vive do lado de dentro. Tempo para ter a coragem de por-nos, uma e outra vez, «a zeros com a vida».»

Texto e imagem da querida Sofia*, aqui e aqui [respectivamente]
*Grata pelas palavras e pela partilha! ❤

Do medo ou da coragem para fazer uma revolução…

O medo assusta-me, admito, mas tem sido o meu melhor aliado, uma espécie de botão ‘boost’ para conseguir olhar e seguir em frente, quando a vontade é de  simplesmente ficar quieta! Claro que há dias em que ele leva a melhor! Opto por não me render, apesar da dificuldade em recomeçar a caminhada.
Não é assim com toda a gente. Não há regras para desafiar o medo. Cada um tem a sua história e as suas razões para agir de modo diferente e de, por vezes, subjugar-se a este estado angustiante, que paralisa, atrofia, que pode mesmo destruir vidas… Porque nem todos somos intrépidos, ou temos acessos de coragem. Há ainda quem prefira viver assim, uns talvez porque porque ‘a vida sem viver é mais segura‘, como escreveu Alexandre O’Neill, outros porque tão-somente ainda não se muniram dos ‘instrumentos’ necessários para fazer a sua revolução pessoal!

PERFILADOS DE MEDO

Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido…

Alexandre O’Neill in Poemas com Endereço, 1962

Bom Domingo…

Liberdade, sempre!


Foto @ Pinterest

O mundo aos olhos do meu filh♥…

Na sala no final do dia (desarrumada com as suas muitas brincadeiras)

‘Rodrigo, arruma os brinquedos, que estão espalhados no tapete, por favor!
Lá veio contrariado e a queixar-se, enquanto apanhava os que estavam mais próximos. E pergunta:
‘Mamã, não me vais ajudar?’
‘Não, filho! Tens de ser tu a arrumar o que deixas desarrumado!’
As queixas continuam.
‘Mas eu sou pequenino! Os meus braços são muito ‘cutos’!’
‘Pois são, mas levantas-te e já consegues apanhar os brinquedos que estão mais longe!’, respondi, a sorrir com a observação (sem que ele visse, claro)!
‘Tu não percebes, mamã! Demora muito, porque eles (os braços) são ‘cutos ‘demais!

Eu percebo, filho! Percebo muito bem! Mas vais crescer e também vais perceber que o caminho se faz em pequeninos passos, e que às vezes demora! Mas conseguimos chegar onde queremos! Não podemos é desistir sem tentar! ❤

Viver a vida como ela é…

Robin: Ted, the future is scary. But you can’t just run back to the past because it’s familiar. Yes, it’s tempting… 
Barney: But it’s a mistake.

HIMYM – Season 6, Ep. 24

É bem mais fácil viver agarrado ao que que se conhece desde sempre, e que sabemos que funciona.
É bem mais fácil não sair daquele trajecto que, à partida, não nos trará surpresas. Caminhar serenamente a par da rotina, sem sair da zona de conforto.
É bem mais fácil pensar que temos sempre tudo sob controle.
No entanto, eu chamo a isto sobreviver, não viver!
Não critico quem prefere viver assim, se isso o consegue fazer feliz. Se eu já pensei assim!

Esforço-me diariamente para não caminhar nessa estrada, para ‘não ouvir essa canção’!
Tenho aprendido que a vida pode construir-se de modo diferente mas igualmente desafiante. Porque, por muito que se queira, é quase impossível existirmos de forma plena num compasso feliz e utópico, de expectativas perfeitamente superadas, de mundo colorido e ‘arrumado’. Eu sei que assim não sou feliz… Já ‘vivi’ nesse mundo e caí imensas vezes. Não me queixo! Pelo contrário. Agradeço a queda! Agradeço o desconforto! Agradeço a indefinição e a incerteza do caminho! Foram estes desvios que me ensinaram o caminho de volta, a recuperar o tempo que perdi a sobreviver! Percebi que o percurso faz-se assim mesmo… de arrelias e alegrias, de contrariedades e de conquistas, de quedas e recuperações, de momentos pouco felizes e de outros que nos enchem as medidas. Na maioria das vezes é no limbo entre as duas acções opostas que nós crescemos (mesmo que não percebamos isso na altura).

O que mais quero é viver a vida como ela é e, como dizem os Skank…
‘deixar a vida me levar
Pra onde ela quiser’.

O que se passa com a amizade? Ou melhor, o que se passa connosco?

A mais recente publicidade da Super Bock é genial. Tornou-se rapidamente num fenómeno viral nas várias redes sociais. E porquê? A cerveja continua a ser, para mim, a melhor do mercado português. Mas isso não mudou com o spot. A edição de imagem é excelente, a música é intrigante, a locução (que parece ser do actor Marco Delgado) faz a diferença! Porém, o que se destaca é simplesmente a mensagem! Um texto breve e claro, mas profundo, que se torna suficiente para embater, à primeira visualização, contra a surdez e apatia em que vivemos. Estranhamente rodeados de gadgets que nos prendem o olhar. Uma mensagem que serve, se assim quisermos ou aceitarmos, quase como um recado para cada um de nós. Não vale a pena negar. Faz falta beber uma boa cerveja, mas a maioria está, na verdade, sedenta de contacto, de afectos, de partilha directa de emoções… de comunicar olhos nos olhos. A metáfora é muito feliz!!! Portanto, não se passa nada com amizade! Ela está e sempre estará bem de saúde, se for bem ‘regada’, seja com cerveja ou outra qualquer bebida! (desde que  feito com moderação e na idade certa).

Única ressalva: não concordo com a frase os grandes amigos vão-se tornando estranhos’, porque, se a amizade for de facto grande, ela nunca acaba. ❤

O que se passa com a amizade?

Se os amigos são tão importantes na nossa vida, como é que temos tão pouca vida para os amigos? Tudo serve de desculpa. O trabalho, a família, o sono, o sofá. Habituamo-nos a adiar encontros cada vez com menos caracteres. Conversamos com ecrãs. Rimo com as teclas e fazemos likes para enganar a saudade. Mas entre um “não posso” e outro, os grandes amigos vão-se tornando estranhos. O que é estranho!

As grandes amizades não pedem muito. Mas pedem manutenção. Pedem olhares, silêncios, sintonia. Piadas que mais ninguém percebe. Pedem tempo! Mesmo que pareça pouco. Vai sempre parecer.

Não precisamos de mil amigos, precisamos de bons amigos. Muito mais do que imaginamos. Vá lá… liga-lhes e fura-lhes a agenda. Arranca-os da rotina. Das desculpas, seja a que horas for. Se estiveres de pijama, veste umas calças por cima. Marquem encontro no sítio do costume e façam o que sempre fizeram. Nada! Tenham conversas que não levam a lado nenhum. Contem as mesmas histórias de sempre, mas estejam juntos. Está na altura de pousarmos o telefone e levantarmos o copo. Se não puderes hoje vai amanhã. Mas vai mesmo.

Se a vida conspira contra a amizade, conspiremos juntos para a defender.

Leva a Amizade a sério!”

‘Não me venham com meias coisas’*

O texto que se segue é de Carolina Deslandes, uma mulher (com cara de menina) de 23 anos que escreve de alma cheia, com o coração na boca e sem medo das palavras. E eu estou a adorar conhecer esta sua faceta maravilhosa, de quem apenas conhecia a voz rouca e suja que colocava em lindas interpretações! Começou a publicar as suas crónicas na plataforma Maria Capaz há pouco tempo. Li a primeira e siderei. Esta foi mais longe! Entranhou-se em mim e foi ao mais fundo do meu ser, da minha essência, pela qual me guio desde que me conheço. E talvez, por isso, eu seja um bocadinho difícil de se gostar verdadeiramente. Porque sou igualmente de grandes extremos, de sentimentos gigantes, de tudo ou nada, de não gostar de meios termos, de meias verdades, de não deixar coisas por dizer, de defender os meus e de lutar por quem amo até à exaustão! E nem sempre se gosta ou se aceita alguém assim. Só os que entram na nossa vida e aceitam ficar.

8 OU 80 por Carolina Deslandes

“Eu amo com o corpo todo. Eu amo com o coração, com as mãos, amo até à ponta dos cabelos. Eu choro com o corpo todo, sofro inteira e inteiramente. Choram-me os olhos e a alma, os tornozelos e os dedos dos pés. E quando sofro, sofre o céu, sofrem as flores, sofrem os transeuntes, sofrem as pedras da rua… O mundo inteiro parece estar de luto. Eu não entendo o ameno, não sei o que isso é. Não entendo a meia estacão. Eu ou morro de frio e visto mais camisolas do que as que me cabem, ou morro de calor debruçada na janela com o cabelo para baixo. Eu nunca “estou satisfeita”, ou estou morta de fome ou tão cheia que até falar custa. Eu nunca gosto mais ou menos de um sítio, nunca. Ou adoro de morte ao ponto de cheirar a casa e poder andar descalça, ou detesto ao ponto de preferir ficar em casa a escrever baboseiras. Eu não entendo o que é isso da “música levezinha”, eu preciso que a música me atropele, me dispa. Preciso que dê um pontapé na porta e me fale como se me conhecesse da vida toda. Eu não me rodeio de “gente porreira”. A gente porreira é o atum da humanidade. Eu rodeio-me de gente, com os melhores e piores feitios, gente calma e pacífica e gente que tem trovoada. Mas acima de tudo gente. Gente que, seja qual for a sua verdade, é de verdade. Eu não entendo o “vai-se andando”. Eu não “vou andando” para lado nenhum, o gerúndio demora tempo demais. Ou estou parada num sítio, apática e a falar sozinha, ou estou a 300 à hora, como se cada instante fosse um ano de vida. Eu não prefiro ter um pássaro na mão que dois a voar. Se existem dois pássaros – que estejam na minha mão – ou então que voem juntos e eu fico a admirá-los. Mas *não me venham com meias coisas. Eu não entendo o “disfarça” ou o “não compres essa guerra”, “se eu não gostar de ti, vais saber”, “se não gostar de alguma coisa, vou dizer”. É que eu prefiro comprar guerras honestas que viver de pazes alugadas made in china. Eu não tenho conhecidos. Ou tenho amigos, ou tenho pessoas, simplesmente. Ou te cumprimento e nada mais ou podes ter a certeza que te dou a minha camisola no Alasca e até te dou o meu Calipo se o teu cair inteiro na areia. Eu não acho mais ou menos piada a nada, não sou adepta do sorriso amarelo. Ou fico calada ou rio até as lágrimas escorrerem e a barriga doer tanto que tenho de me enrolar como um bicho da conta. Eu nunca estou mais ou menos doente ou mole. Ou estou tão activa que falo pelos cotovelos, ou dou 115 espirros e durmo abraçada a um rolo de papel higiénico. Não sei se é uma bênção ou maldição, isto de ser inteira em tudo. É tudo intenso. É tudo catástrofe ou milagre, é tudo luz ou sombra. E pelo amor de Deus, que daqui a uma anos ninguém me descreva como a “gaja porreira”. Que me amem e me lembrem ou então, não queiram saber de mim.”

Aos 3 anos, 5 meses e 1 dia…

… ele proferiu a frase, que ansiávamos escutar há já bastante tempo:

‘Mamã, quero fazer chichi!’

Somos felizes com tão pouco! E, sim, voltámos ao desfralde que parámos há quase um ano (meu Deus, como o tempo passa!) e parece que agora vamos chegar a bom porto! ❤ Assim esperamos!

Cada vez mais ‘exigente’ em relação ao meu mundo de afectos…

Um pequeno mundo em quantidade, mas, ainda assim, grande o suficiente em qualidade para me fazer imensamente feliz! ❤ A idade também nos traz esta capacidade de separar o ‘trigo do joio’. E, por isso, reitero:

“Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa”


Live @ Programa Radiola na TV Cultura
Letra e música: Lenine/Dudu Falcão
 in álbum ‘Labiata’ (2008)